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Os marcianos andam por aí há muito tempo. "Invadiram" a Terra através da literatura, do cinema e da rádio, como na célebre transmissão da "Guerra dos Mundos", em 1938, e habitam o universo do imaginário popular. Mas agora os terráqueos contra-atacam e há portugueses metidos nisso.
Gracinda Ferreira, arquitecta de 34 anos, é um dos três portugueses que passou à próxima fase de selecção da “Mars One”, uma missão que pretende, apenas com financiamento privado, instalar uma colónia humana no Planeta Vermelho em 2023. Inicialmente, eram 200 mil candidatos; agora, restam 705.
O que faz uma arquitecta de Santa Maria da Feira querer ir morar para Marte? Gracinda Ferreira diz que gostava de poder ajudar a "criar uma colónia em algum sítio deste universo, que está como se fosse uma folha em branco, e fazê-lo de uma forma planeada, pensada e com uma noção de eficácia nunca antes conseguida."
A Humanidade pode também "perceber que continua a ter horizontes, que os limites são noções temporárias”, diz à Renascença.
“Se existe vontade, empenho, trabalho e esforço colectivo é possível fazer qualquer coisa e levar a cabo qualquer missão. E eu acho que isto é o maior significado de uma missão a Marte", frisa.
Viagem sem retorno?
A missão "Mars One" é de alto risco e os cépticos dizem mesmo que pode ser uma viagem só com bilhete de ida, sem retorno.
Pretende colocar o Homem em Marte com tecnologia já existente, que será fornecida por parceiros como a Space X, empresa que, há dois anos, fez o primeiro voo privado de reabastecimento da Estação Espacial Internacional.
Gracinda Ferreira não tem informação privilegiada nesta fase do projecto. Admite que "é sempre um bocadinho arriscado fazer alguma coisa que nunca ninguém fez" e que "não há, propriamente, um roteiro para ir e voltar".
Acredita, porém, nas capacidades da ciência: se o Homem já foi à Lua e passa temporadas na Estação Espacial Internacional, "essa mesma tecnologia” conseguirá “tirar seres humanos de outro planeta e trazê-los de volta".
A importância do desenrascanço
E se a certa altura da missão a Marte for preciso dizer a frase "Houston, we have a problem" (ou um equivalente marciano), será que o "espírito de desenrascanço" português vai servir para alguma coisa em Marte?
Pode ser importante, concede Gracinda, mas dentro de "certos limites" e aliado a um elevado grau de preparação e conhecimento técnico – não convém improvisar numa missão espacial.
Ser a primeira astronauta portuguesa deixaria esta arquitecta "muito contente", mas a sua "maior motivação" é "aprender, fazer alguma coisa, desenvolver a tecnologia e, eventualmente, dar alguma coisa à Humanidade".
Francesinhas e o som da chuva
Receios só da comida liofilizada de astronauta. Se fosse seleccionada e se a deixassem, levava para Marte "milhões de francesinhas". Se pudesse também traria consigo os seus gatos e as "expressões da natureza", como as plantas, o som do vento nas árvores ou o som da chuva.
O objectivo do projecto “Mars One” é enviar uma missão não tripulada em 2018.
O processo de selecção para os futuros habitantes da colónia vai continuar. Gracinda Ferreira vai ser entrevistada nos próximos meses por um "comité local".
"Eu espero passar até à última fase. Eu gostaria muito de ir a Marte, foi mesmo para isso que eu me candidatei", remata. Que a força esteja com Gracinda e com os outros dois candidatos portugueses.